Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Smacafam

Smacafam quer dizer "acaba com a fome", em dialeto trentino. No nordeste da Itália, essa torta salgada é consumida no carnaval, que lá ocorre no frio. Imagino que nessa época, as pessoas queiram passar menos tempo na cozinha e mais tempo na festa, então deve ser por isso que é tão fácil de fazer e que deixa a gente satisfeito muito rápido. Querem ver como a gente faz esse prato no tempo de pedir uma pizza? Olhem só que barbada:
  1. Pré-aquecer o forno a 180C.
  2. Colocar numa tigela grande 300g de farinha de trigo e 300g de trigo sarraceno, 20g de sal e ir incorporando com a ajuda do fouet um litro de leite.
  3. Untar e enfarinhar uma forma.
  4. Verter a massa na forma e espalhar por cima quaisquer embutidos e gorduras de origem animal que se encontrarem na geladeira (eu coloquei nesse smacafam: uma linguiça defumada feita aqui mesmo, em Teutônia, numa agroindústria que fica a um Km da minha casa, duas linguicinhas calabresas de um pacote que estava pela metade e uns 100g de bacon picadinho, além de uns toquinhos de manteiga). Lembrem de tirar le budèle (as tripas) que ficam em volta dos embutidos.
  5. Assar por meia hora. Esfriar um pouco. Desenformar. Comer.
Meu tio, que é um engraçadinho, tem uma expressão curiosa: budél de farmacia, que quer dizer "tripa artificial", dessas para ensacar salames modernos. Ele usa o termo para definir coisas ou pessoas fajutas, que não valem nada. Heheh, de onde ele tirou essa, nem imagino, mas acho que é do tempo em que os colonos tiveram de se adaptar à novidade e a encararam com certa desconfiança...

O Gusta é louco por smacafam. Adora mesmo. Só não recomendo servir como primo piatto, porque arruína as pessoas para o secondo e para a sobremesa (e para a próxima refeição também). É uma daquelas coisas que dá para fazer e comer durante uns três dias, junto com uma salada. Bem melhor que xis, bauru, essas porcarias que homem pede por telefone quando janta sozinho. Já fiz a marmitinha com o que sobrou para ele levar para Porto.

Uma palavra sobre o Trigo Sarraceno (Fagopyrum esculentum). Nos mercados maiores, a gente acha junto aos integrais. Ele tem uma crocância adorável e é bastante empregado na Europa Central, quase como a cevada ou o centeio. Na Polônia, chama-se kasha e se come como recheio da kiszka, que é a morcília deles. Eu registrei o lanchinho da tarde da minha mãe em Zakopane, nas montanhas do sul:
Light né? E o acompanhamento era cerveja morna com suco de amora... Por falta de trigo sarraceno, os poloneses aqui no Brasil recheiam as morcílias com outra coisa. A babcia (vó) do Gusta usa arroz (eu acho meio nojento). De qualquer jeito, não como morcília mesmo. Também ouvi falar de uma polenta feita com sarraceno, mas ainda não tentei fazer. Resistência? Provavelmente.

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