Eu entendo por que a segurelha (Satureja hortensis) é o tempero dos sátiros. Ela me faz delirar. É o melhor tempero para carnes. Sátiros, para quem não sabe, são figuras mitológicas, metade homem, metade bode, que acompanhavam os cortejos dos deuses loucos e rebeldes, Pan e Dioniso, natureza instintiva e sensual, loucura e arte, vinho e teatro, poesia e consumo de animais desmembrados vivos. Livin' la vida loca, entendem? Os gregos e romanos sempre me encantaram por ter esse lado tão pós-moderno, tão livre de repressões, que eles entendiam e integravam às suas instituições, ao invés de reprimir e marginalizar. Enfim, trata-se de um tempero difícil de achar, pelo menos em Porto Alegre, mas fundamental, na minha opinião, para fazer um belo polpettone ou um patê. Em italiano, se chama santorregia; em inglês, savory, em polonês, czaber (lê-se tchômber). Eu tenho um pé de satureja de inverno, que é perene, de sabor encorpado, parente distante do tomilho. A segurelha de verão, que é anual (daquelas que morrem todos os anos), só conheço de foto. A super Rosalind Creasy tem no jardim dela e usa nas vagens e feijões frescos. Ela jura que segurelha e feijões são indissociáveis, uma vez que se prova a combinação. Acho que a segurelha de inverno é como o orégano: se sente mais quando seca. No jardim, é uma planta rústica, que gosta de sol, como o alecrim, mas que precisa de mais água. Na primavera, se beneficia de uma poda, a fim de não virar um amontoado de galhos com poucas folhas. É bastante resistente a pragas e tem comportamento rasteiro, o que faz dela uma linda planta para forração ou, como eu fiz, em cascata de vasos.
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