Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Curry, Curry trees, Curry Plant, Caril

A respeito do curry (ou caril, como aprenderam os portugueses em suas viagens às Índias), se poderiam escrever tratados, pois parece se tratar de um fenômeno gastronômico complexo, uma nomenclatura genérica que abarca um sem-fim de misturas de temperos, próprias de regiões da Malásia, da Índia, do Ceilão, das Índias portuguesas (Goa, Timor, etc), da China e do Japão e até da cozinha britânica, que sofreu influências ao colonizar a Índia. Eu li que o curry é, muitas vezes, uma receita de família, uma receita regional ou um segredo do cozinheiro. Li que o curry costuma ser feito na hora, como todo bom tempero e que varia de acordo com o ingrediente principal do preparo. Li também que a curcumina, princípio ativo da curcuma ou açafrão-da-terra (que eu tenho no meu jardim) reduz a degeneração neuronal do Mal de Parkinson. Isso é um estudo da Johns Hopkins que eu pretendo localizar e ler. É o açafrão da terra que dá a cor dourada a alguns curries, mas ele não é parente do açafrão europeu (Crocus sativus), que é um líriozinho. Há também regiões em que a palavra curry designa um molho, uma pasta que acompanha outros pratos, como o homus árabe ou a nossa pasta de berinjela. Em geral, o coentro e o cominho, junto com a pimenta, a folha de curry e o açafrão da terra, integram os curries indianos. Noz-noscada, macis, cravo, canela, feno-grego, asa-fétida e ghee (uma manteiga clarificada) também podem participar. Na região de Bengala (aquela dos tigres), por exemplo, o pessoal põe grãos de mostarda na mistura. Já os curries do Punjabi (a região pela qual brigam indianos e paquistaneses), levam ghee ou creme e masalas (que são blends de especiarias). Ingredientes mais insólitos, como coco e sementes de papoula, também podem aparecer. Já nos curries britânicos, surgem o cardamomo e o sal. Eu li que o tempero do goulash, meu querido goulash com polenta, pode ser considerado um curry. Faz sentido. Eu meio que tenho uma receita secreta mesmo.

Este é o meu espécime de curry plant (Helychrisum italicum) que é uma planta ultra-resistente e cheirosa, onipresente em minhas fortaias (omeletes) e pratos de frango. Nada a ver com as folhas de curry nem com o curry - tempero composto, a não ser, talvez, pelo cheiro, que lembra muito as tais misturas de especiarias. Ela é parente das margaridas e dos girassóis, uma asterácea e seu nome científico é muito poético, pois vem do grego helios - sol e chrysos - ouro, dourado: sol dourado da Itália, se poderia traduzir. Não é lindo? Quando eu abro a porta da varanda, é o primeiro aroma que me cumprimenta. Quando eu molho as plantas, também. Recomendo a todos um galhinho que seja dessa espécie, pois ela pega fácil de galho. Dizem que os gatos não gostam muito dela, mas nunca recebi uma visita felina que comprovasse a teoria. Outra coisa muito boa a fazer com ela são guirlandas e pot-pourris, pois ela seca maravilhosamente, como a lavanda e o louro e é aí que o aroma mais bonito se desprende.
Da Murraya koenigii ou curry tree, eu só conheço o nome em português de Portugal, erva-do-caril. Ela veio da Índia, mas cresce selvagem no Mediterrâneo Europeu, em especial na Córsega, onde também cresce a Verbena. Li que o seu óleo essencial é muito valorizado por propriedades medicinais. As folhas e frutos são comestíveis, mas as sementes são venenosas. Como ela é chamada de neem doce ou neem negro em alguns lugares da Índia, isso rende muita confusão com o neem verdadeiro (Azadirachta indica), cujo óleo se usa como pesticida orgânico, mas elas não pertencem nem à mesma família. A murraya é uma rutácea (da família da ruta - arruda, em italiano) e a azadirachta é uma meliácea, parente do mogno e do cedro-rosa. Parece que a murraya frequenta as panelas do sul da Índia e do Ceilão (Sri Lanka), mas é especialmente assídua nos curries que são feitos por lá. Refogadinha junto com a cebola, a folha da murraya é o primeiro estágio da preparação do famoso tempero composto indiano.

E daí? Resolveu-se a confusão ou ficou pior? Heheh...


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Limonada

Em tempos onde até a água aromatizada virou refrigerante, poucas coisas podem ser tão slow quanto uma limonada. Eu preparo a minha com suco de limões e algo das raspas, além de açúcar e um chá bem forte de erva cidreira ou capim-limão ou, como se diz em Portugal, erva-príncipe (Cymbopogum citratus). Coloco os sabores do limão, da hortelã, do abacaxi, do melão, do cidró (verbena-limão) e do capim-limão como os mais refrescantes dentre as ervas e as frutas. É interessantíssimo brincar com as variações.

Aproveitamento Integral


Nem só de sabores vive a nova culinária. O retorno à sustentabilidade no prato é mandatório, em tempos de combate ao desperdício. O gerenciamento dos recursos é um hábito que perdemos, em tempos de lixeiras enormes, que precisamos esvaziar várias vezes por dia. Já falei aqui do aproveitamento das cascas de abacaxi e das folhas da figueira. Acima, está a batida de bananas muito maduras com o mel que eu aromatizo com lavanda: Leite, gelo, bananas e mel, no liquidificador. Delícia refrescante para um café da manhã tardio. Abaixo, as romãs com as quais faço vinagres e caldas. Guardo as cascas, secas em baixa temperatura no forno, para integrar blends de chá. Meus avós faziam isso o tempo todo. A gente pensa que não tem tempo para isso, mas precisa trabalhar dobrado para comprar coisas que poderíamos fazer em casa, com mais qualidade e mais prazer.
Not only of flavours lives the new culinary. Minding sustainability is a must. We can manage resources properly, instead of keep emptying our ever growing garbage cans many times a day. Here are two humble examples of what one can do: a smoothie made of overripe bananas and my lavender scented honey and some pomegranate peel, which I keep for tea blends, after a few minutes drying at low temperature in the oven. We often think we don't have time for it, but that's because we have to work in order to keep buying stuff we could make at home, with greater quality and greater pleasure.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um Passeio pelo Jardim - Folhas de Salada

Na foto, dá para ver:
- Azedinha (Rumex acetosa)
- Aipo (Apium graveolens)
- Amaranto (Amaranthus tricolor)

Espalhados pelo jardim, eu tenho ainda:
- Radìci (Chichorium intybus) verdes e roxos
- Rúcula (Eruca Sativa)
- Espinafre (Spinacia oleracea)
- Bertalha (Basella rubra)
- Beldroega (Portulaca oleracea)
- Orach (Atriplex hortensis)
- Agrião da Terra (Barbarea verna)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mais ideias para espaços reduzidos

Essa eu adotei: treliças. São ótimas para as treapdeiras. No meu jardim, os maracujás, a bertalha e as ervilhas estão adorando a treliça, que dá privacidade e um pouco de sombra às demais plantas, protegendo do sol inclemente do nosso verão as espécies mais frágeis.


Explore as possibilidades verticais do seu espaço. Pendure cestas, como a da foto. Prefira espécies de folhas carnudas, mais resistentes ao ressecamento, que será tanto maior quanto menor for o diâmetro do recipiente. Eu pendurei meu boldo.

Essa não é necessariamente direcionada a pequenos espaços, mas a jardins que, como o meu, se encontram sobre uma laje. No meu jardim, há uma manta de drenagem ou bidim sob a brita.


Essa é da Rosalind Creasy e eu adotei no meu jardim. Empilhei três vasos e está ficando muito bonito. Escolha plantas rasteiras, que se alastrem com facilidade e que fiquem bonitas quando pendentes. No meu caso, usei a segurelha e o tomilho-limão. No topo, coloquei um frondoso manjericão-anão.

Essa ideia da Martha Stewart é para quem quer um jardim, mas não tem uma sacada: o vão de uma janela bem ensolarada, algumas prateleiras de vidro 8mm e vasos leves (prefira aqui os de plástico). Plante à vontade!





quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Bento


Resolvi postar algumas fotos da região de onde provém a minha família, Bento Gonçalves, cidade da Serra Gaúcha, que foi, juntamente com Garibaldi, uma das primeiras colônias de italianos do Estado. Minha família aportou aqui, na virada do século passado e quase todos ainda moram aqui ou voltam para cá, depois de andanças pelo mundo. Eu pretendo voltar também, um dia. Por enquanto, minhas visitas a Bento se resumem aos fins de semana, para ver a nonna e muitos amigos, para comer bem e comprar comida. Teutonia, onde moro, fica a quarenta minutos de Bento, mas como é uma zona de colonização alemã, parece ser outro pais.
For those who aren't from Rio Grande, this is the hometown of my family, Bento Gonçalves or simply Bento. Bento was first called Colonia Dona Isabel, named after a Brazilian Princess, who abolished slavery in our country. Because of her act, European immigrants were brought to work in the coffee lands, but some also came south. My family has been here ever since and those who does not live here, like myself, dream of coming back. I live fourty minutes from Bento and spend a lot of weekends here, visiting relatives and friends, eating out or buying food supplies.

Essa é uma das vinícolas de Bento, que antes das emancipações das cidadezinhas ao redor, era o maior produtor de vinhos do Brasil. Ainda é o maior produtor de vinhos finos, com duas regiões que detem denominações de origem: o Vale dos Vinhedos (que eu conheci como 15da Graciema) e a região de Pinto Bandeira (que carinhosamente é conhecida como a Pinta, mas que eu também conheço como Nova Pompeia).
This is the Salton family Vineyard, one of many wineries which made of Bento a most beloved turistic destiny for Brazilians from all over the country. Bento produces good wines and even better sparkling wines, with two DOC regions: the Vale dos Vinhedos and the Vinhos de Montanha (around Pinto Bandeira).
Por sinal, essa é a Matriz de Pinto Bandeira, Nossa Senhora da Pompeia, onde eu fiz a minha primeira comunhão. As colônias da minha família ficavam na Linha Brasil, quinta seção baixa do Rio das Antas, hoje pertencente a Pinto Bandeira, emancipado. Nos fins de semana, a família ainda cuida da colônia que foi do nonno e do irmão dele.
This is the church of the little town of Pinto Bandeira, where I took my first eucharisty as a kid. The colonias - small land proprieties of my family belong to this town nowadays and I used to spend many, many weekends here while I was growing up. Some of my relatives still do.
A ferradura do Rio das Antas, rio perigoso, caudaloso e assustador da minha infância, que nos separava dos polacos de Veranópolis, na outra margem e que inundava as colônias, nos invernos chuvosos. Rio de corredeiras, onde se pratica rafting lá em Santa Teresa, rio de muitas piadas, carinhosamente chamado Rio da Zanta (um trocadilho com o jeito italianado de pronunciar a palavra janta, em português).
And this is the Antas' River "Horseshoe", a bend of the river that seems... a horseshoe, doesn't it? For the record, anta (Tapirus terrestris) is the biggest mammal of South America, similar to a pig with a snout, that can weight 300Kg, but is usually smaller. I have never seen one out of the zoo, but I think they might have been all eaten by our ever hungry predecessors, the italian immigrants, who have also promoted a genocide in the bird populations around here, in order to prepare polenta e osèi (polenta with small birds - what an atrocity)... This is the river of my childhood, dangerous, caudalous, rich in treacherous pits and stones, a natural fronteer between us and the Polish descendants of Veranópolis, fountain of endless fish, drowning tales and jokes... mistakenly called Rio da Zanta (something like River of Supper in a italianized way of speaking Portuguese).

Geleia de Guabiju


Do you recall the guabijus that were given to me a few days ago? Out of this tiny sample of berries I managed to make 100ml of strained juice and 80ml of a beautifully colored jelly (I kept 40ml for myself, gave the other 40 to my friend Celia). Concentrated and sweetened, guabiju reveals all its wild, sour flavour with a stingy, pungent bouquet which reminds me of the woods by the river, during summertime. A slow life experience, no doubt. I saved the seeds, of course.
Lembram dos guabijus que ganhei há alguns dias? Pois dessa amostrinha, consegui extrair 100ml de suco coado e 80ml de uma geleia de cor belíssima. Eu não tinha gostado do gosto puro da fruta, mas concentrada e adoçada, ela liberou um sabor silvestre, ácido com um aroma pungente, que me remeteu ao cheiro do mato, na beira do rio, durante o verão. Uma experiência slow, sem dúvida. É claro que guardei as sementes!

Jabuticaba

A Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) é uma árvore nativa da chamada Mata Atlântica, que se estende pelas regiões sul e sudeste do Brasil. Aqui no Rio Grande, as jabuticabas surgem entre setembro e outubro (primavera) e também em fevereiro (auge do nosso verão). O que eu acho mais lindo é que as frutas nascem assim, coladas ao tronco da árvore, como bolinhas de natal. Jabuticabas sempre me fazem lembrar da Emília, a boneca de pano falante, moradora do Sítio do Pica-pau Amarelo, personagem maravilhosamente irônica e espirituosa da nossa literatura infantil, fã das tais frutinhas pretas. A jabuticabeira aí da foto pertence à minha querida vizinha, Dona Célia Augustin, que me deu as jabuticabas aí debaixo:
The jabuticaba (Myrciaria cauliflora) is a native tree from Mata Atlantica (the forests which extend themselves along the Atlantic shores of Brazil, in its Southern parts). The fruit appears in spring and summer and grow like that: attached to the tree branches, stem, and even to its roots. A beloved character from Brazilian children literature, the ragdoll Emília, is the most famous fan of these little sweet-sour explosions of flavour. The tree in the picture belongs to the gardens of my dear neighbour, Ms.Celia Augustin. She also gave me these jabuticabas down below:
E aqui está a jabuticaba fest que eu promovi para mim mesma no jardim, na minha happy hour: suco de jabuticaba e kes-schmier com a minha geleia de jabuticaba e gengibre.


Essa delícia aí debaixo eu batizei de Frau Celia Hertz (o coração da Dona Célia), porque ganhei dela todos os ingredientes. Ela faz esse kes-schmier maravilhoso a partir de leite não pasteurizado, talhado e escorrido (aqui é fácil de conseguir, pois moramos em uma bacia leiteira). Gente, é de comer puro, purinho, eu juro. Geladinho, com uma boa colherada de geleia por cima, precisa de algo mais?
This is my latest invention: Frau Celia Hertz (Ms Celia Heart), named after she, who gave me all the ingredients. Kes-schmier (something that can be translated as cheese-jam) which is made of unpasteurized milk (easy to find around here, because we live in a dairy producing area). It is left to curdle at room temperature and then strained in a cheese cloth. As topping, a nice dollop of my jabuticaba and ginger jelly. Frozen and delicious. I don't think I'll need anything else for today.






terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cren!

foto: Neide Rigo, do blog Come-se (ver link ao lado).

Estas são as flores e as raízes da Tropaeolum pentaphyllum, a raiz-forte gaúcha. Na Europa, em especial na região de influência cultural austro-húngara (e isso inclui regiões tão distantes como o norte da Itália e o sul da Polônia), se emprega outra espécie, a Armoracia rustica. Já no Japão, o famoso wasabi vem do Eutrema wasabi. Enfim, todas as culturas gastronômicas procuram debaixo da terra uma raiz ardida, que provoque emoções fortes ao ser ingerida.
Trata-se de uma sensação polêmica: tem quem odeie e tem aqueles que, como eu, amam. Foi assim que me ensinaram a comer: bem munido de óculos e luvas, se descasca e se rala essa raiz aí de cima, que parece uma mandioca, mas não é. Se deixa o produto ralado maturar em vinagre de maçã ou de vinho tinto, o melhor que se tem. Tá pronto o cren. Ele acompanha carnes assadas e o lesso das sopas (a carne cozida na água). Eu uso como molho do fondue de carne e como puro, de colher, em pé, na frente da geladeira. Para os gourmets menos esfomeados, sugiro um molho de vinho tinto e cren, que faz bonito em cima do filezinho. A babcia (vó) do Gustavo, chama o cren de Krzhan (que é quase a mesma coisa, convenhamos), mas ela mistura com maçã ralada e açúcar e também usa como acompanhamento de carnes e charcutarias (linguiças e salsichões).
Acho que os imigrantes, quando aportaram por aqui, andaram muito à cata de substitutos para os prazeres selvagens da terra natal. Acharam o cren de uma maneira incrível e até poética. Meu tio me contou como: Quando se avista a flor do cren, que é rasteira, se acompanha a rama até encontrar a origem, onde provavelmente está a raiz. Aquele local é marcado e só se extrai a raiz (parte dela, para não predar) dois meses depois, quando o sabor ardido está em seu auge. Olha só que conhecimento tradicional bonito, quanta gente não comeu cren ruim só para descobrir isso? É disso que o Petrini do Slow Food fala, quando ele diz: preservemos os saberes empíricos. Uma raiz, eu enterrei. Diz a nonna que isso se espalha incrivelmente. Quando se planta no chão, é melhor fazê-lo dentro de um tonel ou cano grosso.

De Araque

Sobremesa: Herice el lauz (doce de semolina com amêndoas e calda de rosas)
Antipasto: Falafel (bolinho de grão de bico, cebola roxa, gengibre, cominho, coentro, pimenta síria e all spice.

Primo e Secondo: Moussaka (lasanha grega de berinjelas e batatas fritas, com ragú de carne e besciamella) e Lahem michwi (espetinhos de carne temperada com limão, cebola roxa e pimentão) - Repararam que o espetinho é um ramo de alecrim? Na foto panorâmica aí abaixo, ainda se vê a Mjadra (arroz com lentilhas, macis e cebola caramelada).
O que foi isso? Eu, fazendo comida árabe? Pois é... No fim de semana, o Gusta e eu fomos comer em um restaurante árabe de Porto Alegre, que eu costumava adorar, mas que se revelou uma frustração horrível. Depois de 40 minutos esperando a comida, esta veio às prestações, com cara de microondas e sem tempero nenhum. O quibe estava cru, o falafel seco, a lasanha de berinjela estava além das palavras mais depreciativas. Nem pedimos a sobremesa e o garçon, que só faltou cuspir em nós, não ofereceu café e atirou a conta sobre a mesa, sem que houvessemos feito uma só reclamação!
Nosso desejo árabe, contudo, persistia. Por isso, fiz minha primeira incursão nessa fascinante culinária, com a ajuda de um livro que herdei da nonna e improvisando uma lasanha de berinjela com meu moussaka grego. Ah, agora sim!



Butiá, Butiá e Mais Butiá...

Essa foi a produção do fim de semana: montes de geleia de butiá com cardamomo, pois fevereiro é tempo de butiá!!! Licor de butiá, suco de butiá e butiá in natura.

Chłodnik

A Polônia tem uma tradição adorável, infelizmente não trazida pelos imigrantes ao Brasil: sopas geladas, doces ou salgadas, para comer no verão. Não que eles tenham alguma coisa contra as sopas quentes, mesmo num calor de trinta graus. Isso eu mesma testemunhei. Pois eis aí a minha versão de chlodnik (pronuncia-se huôdnik, com um "h"bem forte, quase um "r"):
Sopa Gelada de Uvaia e Baunilha
100g de polpa de uvaia picada (guardar uns pedaços bonitos para decorar)
60g de açúcar cristal
130ml de água
150ml de iogurte natural
Ferver a baunilha por cinco minutos em uma calda rala, feita com açúcar e água. Retirar a fava, deixar a calda esfriar e misturar a uvaia picada e o iogurte, batendo no liquidificador. Gelar, mas deixar líquida. Eu servi decorada com os pedaços de uvaia reservados, folhas de cidró e um risco de geleia de uvaia. Miam, miam!
Cold soups are a lovely tradition in the Polish summer (although, as I could witness, they keep eating the hot ones despite the weather). My version is an uvaia and vanilla chlodnik: 100g of uvaia, clean and seedless; 60g sugar, 130ml water, 150ml plain yogurt, a vanilla bean. Boil the vanilla bean for five minutes in a syrup made of the water and the sugar. Remove the vanilla bean. After the syrup has cooled down, mix it with the uvaia and the yogurt and let it in the freezer until cool, but still soft. Yummy.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lindo Calendário

Olhem só que amor de calendário os Bellè publicaram hoje no blog deles. O que eu acho mais legal é que a gente fica conhecendo o tempo de safra de cada fruta bem nossa, bem gaudéria. Dá p fazer o download no blog deles, que eu sigo, é claro: www.familiabelle.blogspot.com.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Algumas Frutas Incomuns

Na foto acima, figo-da-índia, noz pecan, uvaia, butiá e guabiju, comprados na Feira Ecológica, abaixo de uma chuva torrencial. Como falei do butiá num post anterior, vou falar das outras frutas, porque noz pecan todo mundo conhece.


O Opuntia ficus-indica é uma cactácea originária do México e levada das Américas (As Índias Ocidentais) ao Mediterrâneo pelos navios de Colombo (os marinheiros o ingeriam para prevenir o escorbuto). Em italiano, chama-se ficodindia e seu consumo maior se dá na Sicília, no sul, onde serve de base também para bebidas alcóolicas. Em Israel, o figo da índia chama-se sabra, e é costumeiramente consumido (também se chamam assim os judeus nascidos em Israel, em contraposição aos nascidos em outras partes do mundo). No México, ele é muito importante, aparecendo até mesmo no símbolo do país. No Rio Grande, o figo da índia é a Tuna, citada no Canto Alegretense:
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de Tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
Pretendo produzir Mel de Tuna, assim que descobrir como...

Este é o guabiju, fruto da Myrcianthes/Eugenia pungens, nativa do Rio Grande. Ganhei dos Bellè, de Antonio Prado, que tem uma banca na Feira Ecológica e também tem um blog legal (ao lado). Esses frutos amadurecem entre janeiro e fevereiro. Sei que se colocam na cachaça. O gosto in natura não é dos melhores, devo confessar. Depois que eu decidir, conto o que farei com eles.

E essas são uvaias (Eugenia pyriformis), simplesmente deliciosas, amarguinhas, com uma casca aveludada. Os Bellè fazem sucos com estas frutas, pois elas são difíceis de transportar, machucam-se com facilidade, mas hoje, aventuraram-se a trazer algumas. Sua safra é entre novembro e dezembro por aqui. Não faço a menor ideia do que fazer com elas...
These are some unusual fruits I bought today: indian figs, guabijus and uvaias. Indian figs are from Mexico and very common there and also in Southern Italy. It may be transformed into liqueur, jam, ice cream or juices. Guabijus are still a mystery to me... Uvaias are very friable but surely delicious, slightly bitter and velvety covered. Maybe I can do some jelly out of it. Gotta think fast, thought. It sure rottens fast!











quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ideias para Presentear Jardineiros

Esta é uma série de ideias pescadas da internet, caso tenham de presentear um aficcionado por jardinagem ou alguém que pretende começar sua hortinha de varanda. Todas são bonitas e utilíssimas, algumas podem ser feitas em casa, com um custo mínimo. Outras, saem do próprio jardim, que costuma ser pródigo em mudas, ramos e sementes. A foto acima requer bastante capricho. Trata-se de secar e armazenar as sementes dos vegetais consumidos, guardando num pacote atraente e fotografando o espécime para identificação. Um jardineiro adorará sementes de um tomate, uma abóbora ou um limão diferente. Muitas vezes, é possível germiná-las.
These are ideas I fished from the internet and that I find useful as gifts for gardeners or gardener chefs. Some are DIY and some may come straight from your own garden, that will feel relieved from the excess of new sproutings or seeds. The first suggestion requires some knowledge about seeds that can germinate and those who will not, but this may be tested at home. The seeds must be dried before packing.


Essa ideia é para os dotados artisticamente. Vasinhos baratos de cerâmica podem se transformar em objetos charmosos para decorar o jardim ou a hortinha no parapeito da janela. Acredito que se possa pintar com tinta acrílica e depois envernizar as partes pintadas. Se envernizar o vaso todo, compromete-se a drenagem e ele reterá tanta água quanto um vaso de plástico.
This is for the gifted. Cheap ceramic vases painted with allusive images. I think it would be better if we sealed only the pictures. Otherwise the nice drainage of a ceramic pot would turn into that of a plastic one.

Essa é muito fácil e faz sucesso. Eu já fiz, como lembrancinhas de aniversário. Para identificar as plantas, é só usar palitos de picolé. As pessoas adoram e o jardim agradece, pois quando uma planta está cheia de mudas, ela se sente aliviada se a gente desfaz a touceira.
This one I have already made, to give as a party memento. You can use popsickle sticks to identify the species.
Para mim, o bonito dessa última ideia é o sonho do jardim. A gente compra as sementes, faz o cartão e coloca nesses pacotinhos mais bonitos. Pronto: um sonho de jardim como presente! Para iniciantes, eu recomendaria sementes de fácil germinação, para não frustrar: endro, cebolinha, coentro, cerefólio, manjericão. A salsa costuma demorar muito, mas esses outros germinam em menos de sete dias.
This one is poetic: you give the dream of a garden. Buy the seeds and move them from the original package for a charming one, inside a beautiful folding card. Be aware of closing them well and protecting against umidity. You may use a little plastic ziploc inside the cardboard envelope. Choose seeds of fast and easy sprouting: dill, basil, chives, chervil, cilantro. Parsley usually takes too long.

Essa é ninja. Se não me engano, vem da Martha Stewart. É uma cesta de jardinagem. Num vaso de cerâmica, luvas, regador, ferramentas, placas de identificação, sementes, instruções de plantio e até receitas.
This is the ninja one, from the goddess of housekeepers, Martha Stewart. Create a gardening basket in a wide mouth ceramic pot: tools, gloves, string, identifing plates, seeds, instructions and recipes.





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Michel Bras

Essa foi a insalatina que eu jantei ontem, inspirada em Michel Bras, que, na minha opinião, é o cozinheiro que faz os pratos mais bonitos do mundo. Não sei se são gostosos, mas são lindíssimos. E o mais legal é a filosofia por trás deles, o conceito: usar ervas e verduras nativas, fresquíssimas, brotos, flores, explorar o belo e o lúdico do vegetal, muitas vezes relegado ao papel de contorno. Como eu tinha tantas plantinhas para comer, e um pouquinho de cada uma, fiz essa insalatina roxa, usando radicchio, folhas de amaranto, beldroega, brotos de alfafa, estragão, flores de menta, mirtilos e uma conserva que eu faço, de beterraba e cren no vinagre de vinho. Claro que ficou grotesca na comparação com a delicadeza do mestre, mas remete, não remete? Eu sempre sirvo demais, tsc, tsc. Taí um vício de gringa que nem a Escola de Gastronomia conseguiu me tirar.



Yesterday my dinner was inspired on Michel Bras, a French chef which cooks wonderful, colorful (and tasteful, I imagine) dishes based on local herbs and vegetables. The humble insalatina I made had radicchio, purslane, mint flowers, blueberries, amaranto leaves, tarragon and a preserve of beets and cren and wine vinegar. Of course it has not the eerie and perfect looks of the master's, but reminds of it, doesn't it?

"Sorbetto e Bigolai"

Essa é a Neusa, lavando o brondìn da polenta. Ela me mata se ficar sabendo que eu postei essa foto. This is my friend Neusa, washing the polenta pot. She will kill me when she realizes I posted this picture of her.
Esses são os araçás, frutinhas do mato, parecidinhas com micro goiabas.
These are the araçás, wild berries, very similar to small guavas (Psidium guayava).

Esse foi o luxo da semana: uns picolés cremosos de abacaxi e butiá que eu cortei em cubinhos e enfeitei com goiabada e "araçazada", sobre um splash de calda de mirtilos e melissa. Nossa, como diria meu amigo Samuel Bettiol, que explosão de sabor! Eu batizei esse prato em homenagem a minha amiga Neusa Fabris, gringa das boas, minha professora de culinária local. Contam as lendas que, quando ela era pequena e o sorveteiro passava, a Neusa dizia empolgada: sorbeto e bigolai, sorbetto e bigolai! (leia-se: sorvete - sorbetto, in italiano; bigolai - forma italianada de picolé - heheh, acho que bìgoli - massa, era, para ela, o mais foneticamente associável a picolé).

This is the indulgence of the week: pineapple and butiá popsickles with guava and araçá jelly, over a blueberry and melissa splash. I called this dish "sorbetto e bigolai", after my friend Neusa, who used to say this as a kid, whenever she saw the icecream seller. Its hard to explain, but bigolai is an italian approximation of picolé - popsickle in Portuguese. It's funny because bìgoli means pasta, with no relation whatsoever with popsickles. Neusa has been a friend of my family for many years, because she and my mom were raised as neighbors. She is one of my regional cooking mentors (the other being my nonna, of course).

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Os Nomes dos Zucchini

Taí uma coisa que eu tinha muita curiosidade de experimentar. Meu avô sempre falava disso como uma coisa muito especial, tipo uma guloseima, que sempre que ele achava na horta, juntava um maço e trazia para a minha avó fritar para ele. Bom, mas acho essas frituras meio pesadas. Lá em Bento (e no Veneto), os zucchini se chamam suchète - abobrinha, de suca - abóbora (zucca in italiano) e eu já vi uma variedade de abobrinha soquete, provavelmente uma forma abrasileirada do termo. (Fato bizarro: temos um parente de apelido suca, porque a cabeça dele tem formato de abóbora. Nem sei o nome dele. Fato linguístico: meu pai chamava a gente de sucon - abobrão, quando alguém estava bancando o cabeça-dura). É mais bonita que gostosa, na minha opinião, mas para quem quiser tentar, é só fazer uma pastella com um ovo, sal e pimenta, um pouco de farinha e um pouco de uma bebida gasosa (pode ser cerveja ou água com gás), passar as flores nela e fritar, cuidando para não encharcar.
These are zucchini blossom fritters. Mix a beaten egg with salt, pepper, two spoons full of flour and some beer or sparkling water, dip the flowers in it, deep fry it in sunflower oil. For my nonno, these fritters were a highly appreciated summer treat.