Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Jantando com Amigos

Nas palavras de Alain de Bottom, só passamos a existir quando alguém acompanha nossa existência, o que só passa a ter significado quando alguém consegue entendê-la. Viver cercado de amigos é ter constantemente nossa identidade confirmada; o fato de eles nos conhecerem e se preocuparem conosco tem o poder de nos tirar de nossa indolência. Epicuro, meu filósofo-jardineiro-gourmet preferido, julgava que um punhado de amigos sinceros pode prover o amor e o respeito que mesmo a riqueza não pode.

É por isso que adoro receber meus amigos (e leitores fiéis) Enrico, Bira e Dani, para uns convescotes in promptu, que a gente organiza de uma hora para outra, sem mais nem por quê, só pela vontade de exercer nossa convivência. Como se não bastasse a gente se ver a semana inteira no Posto de Saúde...

O fato é que Epicuro chegava a preconizar que nunca, jamais se fizesse uma refeição solitária, dessas que a gente come de pé, na pia da cozinha, porque está com preguiça de por a mesa. "Não somos lobos ou leões, somos seres humanos" - dizia o mestre - "e com quem se come é até mais importante do que o que se come".

Como eu vou passar uns dias fora de casa, chamei-os, ontem à noite, para fazer uns maccheroni frescos que eu havia comprado em Bento e que, com certeza, não sobreviveriam até o meu retorno. Nada pretensioso mesmo. Legal é que deu para testar meu lemon curd numa receita que vi o Jamie Oliver fazer naqueles programas em que ele cozinha uma refeição em meia hora. É um tipo de tortinha num copinho. Primeiro, moí uns cookies de chocolate, derreti uma colherada de manteiga na frigideira e juntei um punhado de avelãs, misturei tudo para fazer a base. Depois, bati meu lemon curd com umas colheres de mascarpone e açúcar de confeiteiro (por mim nem precisava açúcar, mas o Enrico e a Dani são chegados em coisas muuuuito doces). Por último, minha geleia de araçá-vermelho e umas folhas de menta do giardin, colhidas na hora. Deixei a apresentação assim, meio desconstruída, porque acho que tem um apelo psicológico profundo nisso, que o Jamie explora muito bem: o da comida nitidamente caseira, cheia de atavismos.

Mas o ponto alto da noite foi a pós-dessert. Nada demais a receita, eram só uns frapês de nutella, ovomaltine e amaretto, mas a ideia de comer uma sobremesa depois da sobremesa... A culpa vai às alturas e a gente se sente numa orgia romana, decadente, terrível! Só faltaram as tripas de urso com mel e as mamicas de porca recheadas com línguas de tordo e molho de peixe podre. Quem sabe da próxima vez.

PS: Para quem anda meio estressado, recomendo o método do Jamie de moer cookies: colocá-los num pano de prato, fazer uma trouxinha e espancá-los com vontade contra a bancada. Nas palavras dele, "beat the crap out of them"!

3 comentários:

  1. Realmente, Michele, estar entre amigos queridos é realmente maravilhoso. Entre pratos de maccheroni al pesto, histórias da cozinha e do jardim, "tortinhas de lemon curd e avelãs no copinho" (que estavam uma delícia), idéias, risadas, fotos de família, planos e sonhos, regalados pela pos-dessert (outro sonho!!!) e com direito inclusive a um pouco de filosofia enquanto a louça era lavada, foi uma noite espetacular. Encontros assim dão um novo sabor às noites frias de Teutônia.

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  2. Enrico, daqui a pouco o blogger vai te contratar para blogar no meu lugar! Cada comment teu é um poema!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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