Sábado à noite, assisti um filme em que a Brittany Murphy tenta aprender a fazer lámen, um tipo de minestrone japonês. O filme, The Ramen Girl (esqueci a obviedade que usaram como título na tradução), é uma mistura engraçada de Como Água Para Chocolate (o caldo de Abby faz as pessoas chorarem, como o banquete de Tita) com Tampopo - os brutos também comem spaghetti (um filme japonês nonsense). Abby é uma borderline típica: cruza o mundo atrás de um cara que recém conheceu, não dura mais do que três meses em um emprego, gasta as teclas do celular de tanto importunar o amado, aparece de toalha na rua, no meio de uma discussão. Nos primeiros minutos do filme, empatizamos com o cara que a abandona. A convivência com os japoneses logo exerce efeito calmante sobre ela. Abby aprende a ter paciência, a ser meticulosa, humilde e, o mais importante, admitir a existência do outro como algo independente, separado de seu próprio ser. O dono do restaurante, o mais improvável dos professores, vive processo semelhante: precisa aceitar o desejo do filho de seguir carreira longe do estabelecimento familiar. É interessante assistir sua evolução: da raiva autodirigida, na forma de um beber excessivo, para a raiva dirigida a Abby, que sofre todas as humilhações possíveis e, no fim, à resignação e ao surgimento de um novo caminho. É claro que tantos caldos, algas, cogumelos e legumes bem cortados açularam meu apetite. Enquanto via o filme, cortei repolho, cenoura e cebola, iscas de carne; busquei aipo, cebolinha e acelga no jardim, descongelei umas vagens e salteei tudo no óleo, por ordem de tempo de cozimento, com sal e molho de soja. Não era lámen, mas matou a vontade e manteve a proposta low-carb do meu fim de semana.
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