Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Cozinhar é Meditar

"A vida depende da vida. Todos comemos e somos comidos. Quando nos esquecemos disso, choramos. Quando nos recordamos disso, podemos nutrir uns aos outros." preceito budista

Nutrirmos uns aos outros. Essa é a missão dos amigos. Meu jardim e eu recebemos hoje a visita de uma nova amiga, a Andreia Bonato, do blog Casa de Babette. Ela trouxe esse magnífico pão português, muitas ideias novas, muito carinho, bom-humor e um livro chamado "O Zen na Cozinha", de onde extrai a citação que abre este post. Se a comensalidade, primeiro dentre os atos civilizatórios, é o espaço da interação humana por excelência, o ato de cozinhar é a casa do silêncio. Venho pensando nisso há dias, que é preciso calar a turbulência mental do cozinheiro para ouvir a voz do ingrediente, ter uma atitude de respeito com os seres vivos que serão sacrificados para que a vida continue em nós. Numa dessas sincronicidades da vida, vem a Andreia com as mesmas reflexões: cozinhar é meditar.
Fiz essa tortinha com o kes-schmier de Teutônia, a copa de Bento e as ervas do meu jardim: rúcula, azedinha, pissacán, alecrim, radìce, espinafre - colhidas na hora do preparo, na quantidade exata a ser consumida. Quando se é jardineiro e se tem noção da energia e do tempo investidos no cultivo, cada folha conta - uma reflexão contra o desperdício. 
Esse presunto em crosta de pão foi embebido no extrato de louro que eu mesma produzi. No pão, a farinha, o sal, a água e o fermento que sempre se tem em casa. Cenouras e vagens, quando compradas, podem ser branqueadas e depois armazenadas em pequenas porções no congelador, reduzindo os tempos de preparo do dia-a-dia. As beterrabas e ervilhas-tortas, eu colhi na hora, no jardim. A verdura quase crua, ainda cheia de seus nutrientes, é uma reflexão sobre o quanto precisamos intervir sobre a natureza. A água das verduras, suas folhas e talos, tudo merece um olhar sem apegos, livre de pré-concepções. Aproveitar integralmente o alimento é uma demonstração de respeito com o mundo em que se está inserido.

A mousse de melão cantalupo veio em função do fruto mais bonito que encontrei no mercado. Na calda de vinho, usei anis estrelado, gengibre, cravo, canela em pau, cardamomo e fêve tonka. E a menta do jardim. Diz o zen: "comer com os olhos também nutre, desde que desfrutemos da beleza dos alimentos com admiração e calma". Diz a Andreia que uma sessão de meditação deixa o corpo alquebrado e o espírito revigorado. É exatamente o que estou sentindo agora.

Um comentário:

  1. Lindo encontro esse de vocês...
    É isso aí!
    Tenho um grande amigo que diz: para conhecer um mosteiro, conheça o jardineiro e o cozinheiro... :)
    Cozinhei por alguns anos na cozinha de uma comunidade em retiros, era lindo!
    Beijos

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