Esse foi meu almoço hoje: polenta brustolada, funghi cultivados aqui em Teutônia, pesto de sclopit.
Erva Silena, Sclopit ou Stridolo, são todos nomes da Silene inflata. Conhecido só no Friuli e usado em geral durante a primavera, o sclopit dá às fritadas e risotos um gosto que não se pode apagar das papilas. Gosto dessa descrição do Fred Plotkin: "ardente, levemente embolorada, fortemente gramínea". Foi o Fred, aliás, quem primeiro me falou dela. Comprei as sementes na internet e hoje tenho esse pezinho aí da foto, pequeno ainda, mas vigoroso. Ela parece gostar de sol e terreno mais seco que úmido. Não se importa com o vento e tem uma delicada floração branca. Em Udine, num cantinho desvalorizado de uma delicatessen mal-atendida, achei um vidrinho feioso de "pesto friulano". Ao olhar os ingredientes, que surpresa! Era ele, o sclopit, processado com nozes, sal e azeite extravirgem.
Sou fissurada em gostos que transportam a gente de volta às raízes, quer culturais, quer vegetais. Quando cozinho, tento repartir com as pessoas essa minha viagem. Tenho uma até uma categoria especial de ervas para conseguir isso: o menstruz (Coronopus dydimus), o cren (Tropaeolum pentaphyllum) e agora, o sclopit. Até o nome soa atávico aos meus ouvidos, porque termina com aquele "t" in staccato do idioma friulano: SclopiT, bem como meu avô pronunciava nosso sobrenome, ValenT. Seria exagero se eu dissesse que esses sabores tem o poder de me recordar quem sou eu, de me arrancar da vida corriqueira e me levar ao fundo da mata, aonde mora o meu coração?
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