Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Agricultura Urbana: Por quê?


Hoje me fizeram esta pergunta. Enquanto eu plantava as mudas adquiridas durante o último fim de semana, fiquei pensando sobre o assunto:


1) A razão gastronômica: cultivar minhas próprias verduras garante a boa procedência, a base de uma boa receita. Tenho à mão (literalmente) minhas espécies prediletas, fresquíssimas, raras, exóticas, exclusivas. Tenho acesso a tudo: as flores, os brotos, as folhas, os galhos, os frutos, as sementes e até as raízes. Um herbário está para uma cozinheira como a mais completa caixa de lápis de cor para um desenhista ou as mais variadas linhas de seda para uma bordadeira: são as potencialidades que encantam, fazem devanear.


2) A razão filosófica: o homem se enxerga e produz a si mesmo no fruto do seu trabalho. Em nenhuma outra situação isso é tão palpável. Meu jardim, como diria Paulo Freire, é produto do meu sonho. Através dele, eu sou e meu eu se materializa no mundo.


3) A razão psicológica: além das ervas, meu jardim é o espaço de cultivar o silêncio, de refletir, protegida sob o manto da atividade manual. Nele, meu cérebro descarrega todo o peso do envolvimento humano a que se sujeitou durante o dia, se torna limpo e leve de novo, reencontra seu ponto de equilíbrio. É um banho para a alma.


4) A razão nutricional: desde que comecei a cultivar um jardim, perdi peso naturalmente, sem privações. Meu interesse por vegetais e frutas aumentou, assim como a proporção que ocupam em meu prato e as variedades que me disponho a experimentar. Além disso, carregar vasos e sacos de terra para lá e para cá é um exercício e tanto!


5) A razão estética: um jardim é a própria definição de beleza. Há tanto o que contemplar e belezas efêmeras estão sempre ali, a serem descobertas num exame mais minucioso. Hoje, por exemplo, achei uma orquídea oncidium em flor, ali, amarelinha. É um índice de aconchego do lar, um elemento vivo de decoração através das janelas, disfarçando as arestas da cidade.


6) A razão relacional: tornar-se um jardineiro equivale a entrar para uma sociedade secreta e, ao mesmo tempo, democrática: é uma linha de conversa amena e agradável com pessoas de qualquer nível social. Senhas como "hormônio enraizador", "cochonilhas" e "cultivares raros" rendem horas e mais horas de bate-papo com completos estranhos: seja num avião, numa feira ou num blog. Sem falar mal da vida dos outros ou se queixar da violência ou dos políticos.


7) A razão ecológica: ter um jardim na sacada diminui o calor, absorve parte da água das chuvas, do resíduo orgânico da minha cozinha, diminui minha culpa na emissão de carbono, no desmatamento, no uso de plásticos em sacolas e embalagens, no emprego de fertilizantes nitrogenados e agrotóxicos. Enfim, reduz o impacto da minha existência sobre o planeta. Me perturba muito a consciência de que somos tão nocivos ao planeta como os pulgões ao meu jardim: como eles, tolos o suficiente para exterminar nossa fonte de sobrevivência.


8) A razão histórica: ter ervas italianas permite que eu resgate preparos e sabores já esquecidos pelas pessoas da minha cultura, passado tanto tempo da imigração. Com isso, posso religar nossa tradição culinária à do país de origem, preservar receitas das minhas bisavós, gostos dos meus avós para que meus filhos possam conhecê-los um dia, herdá-los. Cultivando ervas nativas e integrando-as aos meus preparos, sinto q estou contribuindo para a construção de uma identidade culinária local.
Serão motivos suficientes? Acho que sim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário