
A respeito do curry (ou caril, como aprenderam os portugueses em suas viagens às Índias), se poderiam escrever tratados, pois parece se tratar de um fenômeno gastronômico complexo, uma nomenclatura genérica que abarca um sem-fim de misturas de temperos, próprias de regiões da Malásia, da Índia, do Ceilão, das Índias portuguesas (Goa, Timor, etc), da China e do Japão e até da cozinha britânica, que sofreu influências ao colonizar a Índia. Eu li que o curry é, muitas vezes, uma receita de família, uma receita regional ou um segredo do cozinheiro. Li que o curry costuma ser feito na hora, como todo bom tempero e que varia de acordo com o ingrediente principal do preparo. Li também que a curcumina, princípio ativo da curcuma ou açafrão-da-terra (que eu tenho no meu jardim) reduz a degeneração neuronal do Mal de Parkinson. Isso é um estudo da Johns Hopkins que eu pretendo localizar e ler. É o açafrão da terra que dá a cor dourada a alguns curries, mas ele não é parente do açafrão europeu (Crocus sativus), que é um líriozinho. Há também regiões em que a palavra curry designa um molho, uma pasta que acompanha outros pratos, como o homus árabe ou a nossa pasta de berinjela. Em geral, o coentro e o cominho, junto com a pimenta, a folha de curry e o açafrão da terra, integram os curries indianos. Noz-noscada, macis, cravo, canela, feno-grego, asa-fétida e ghee (uma manteiga clarificada) também podem participar. Na região de Bengala (aquela dos tigres), por exemplo, o pessoal põe grãos de mostarda na mistura. Já os curries do Punjabi (a região pela qual brigam indianos e paquistaneses), levam ghee ou creme e masalas (que são blends de especiarias). Ingredientes mais insólitos, como coco e sementes de papoula, também podem aparecer. Já nos curries britânicos, surgem o cardamomo e o sal. Eu li que o tempero do goulash, meu querido goulash com polenta, pode ser considerado um curry. Faz sentido. Eu meio que tenho uma receita secreta mesmo.
Este é o meu espécime de curry plant (Helychrisum italicum) que é uma planta ultra-resistente e cheirosa, onipresente em minhas fortaias (omeletes) e pratos de frango. Nada a ver com as folhas de curry nem com o curry - tempero composto, a não ser, talvez, pelo cheiro, que lembra muito as tais misturas de especiarias. Ela é parente das margaridas e dos girassóis, uma asterácea e seu nome científico é muito poético, pois vem do grego helios - sol e chrysos - ouro, dourado: sol dourado da Itália, se poderia traduzir. Não é lindo? Quando eu abro a porta da varanda, é o primeiro aroma que me cumprimenta. Quando eu molho as plantas, também. Recomendo a todos um galhinho que seja dessa espécie, pois ela pega fácil de galho. Dizem que os gatos não gostam muito dela, mas nunca recebi uma visita felina que comprovasse a teoria. Outra coisa muito boa a fazer com ela são guirlandas e pot-pourris, pois ela seca maravilhosamente, como a lavanda e o louro e é aí que o aroma mais bonito se desprende.

E daí? Resolveu-se a confusão ou ficou pior? Heheh...