As fotos que tirei, propositalmente em sépia para ressaltar a beleza das linhas e ocultar as feiúras de abandonos ou maus restauros, mostram alguns dos tesouros escondidos nas ruas desmazeladas dessa cidade. Berço de ilustres, como Flores da Cunha, Paixão Cortes, Carlos Urbim e Gaúcho da Fronteira, equidistante de Porto Alegre e Montevideo, Santana do Livramento é uma das cidades mais antigas do Rio Grande, desmembrada do Alegrete, apenas um ano depois da Independência do Brasil. O presidente americano F.Roosevelt chegou a desembarcar em sua estação férrea. Um sem-número de prédios art-noveau, restaurados ou não, remontam a dias muito prósperos, no início do século XX, quando a cidade viveu o auge da pecuária e abrigou lanifícios, frigoríficos e diversas agremiações (a maçonaria, fundada aqui em 1903, a sociedade italiana, em 1911).
Por inclemências históricas, Santana do Livramento entrou em decadência, junto com o resto da metade sul do Estado, e nos últimos dez anos, registrou uma perda de quase 10% da sua população. A simbólica avenida que separa e une Brasil e Uruguay se encontra tomada de lixo, mendigos e mercadores informais. As construções recentes tem um ar de improviso e aglomeração e as lojas de comércio popular tomaram quase todos os espaços centrais (uma curiosidade: como em nenhuma outra cidade gaúcha, avistam-se muitas mulheres muçulmanas pelas ruas, com seus véus). Do ponto de vista gastronômico, há carne de cordeiro de primeira qualidade, há a Vinícola Almadén, recentemente comprada pelo grupo Miolo, revendendo seus bons vinhos a preços irrisórios, há a proximidade com toda a manteiga, os queijos e o doce de leite uruguaios. Onde andam os políticos e burocratas do turismo, que não brindam Santana do Livramento com um projeto de revitalização urbanística? Provavelmente, passeando em Praga...
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