Un Giardin sul Balcon

"Non ghe xe erba che la varda in sù che non la gabbia la so virtù" (da tradição vêneta)

sábado, 14 de julho de 2012

A Tiropita da Tevê


A tiropita é um pastelão grego com massa filo e queijo branco, muito apreciada pelos herdeiros de Sófocles e Platão. Facílima de fazer quando se tem os fornecedores certos - e também muito vistosa.
Em primeiro lugar, é preciso comprar, no setor de congelados de um bom supermercado, um pacote de massa folhada ou massa filo, que é mais fina e delicada. Estende-se um pouco a massa, com a ajuda de um rolo. Para o recheio, eu fui ao giardin e trouxe uma boa quantidade de folhas de bertalha (Basella rubra). Em Porto Alegre, a Silvana, do Sítio Capororoca, vende bertalha já limpinha e ensacada, na feira ecológica dos sábados, na Redenção. Quem quiser se animar e plantar, bertalha é "capoeira" - é o nosso espinafre (em inglês, chamam de malabar spinach), porque ela vai se enredando e subindo mesmo, já alcançou o topo da minha figueira. Bom, voltemos ao recheio da tiropita: é preciso dar uma refogadinha de uns três minutos na bertalha, com uma pitada de sal e sem outra água que a das próprias folhas. Fatia-se e mistura-se com uns dois ovos de colônia bem amarelos e um pote de kes-schmier (quem quiser tentar essa receita fora do Rio Grande terá de combinar ricota e um pouco de creme de leite). Sal, pimenta do reino moída na hora e temperos da preferência de cada um: eu usei umas folhas de milefólio e cebolinha, uma pitadinha de macis e outra de canela. Se alguém não sabe, o macis é o arilo da noz-moscada, a frutinha que fica em volta. No Brasil, é comercializado pela Bombay especiarias. Daí é só misturar e colocar o recheio no meio da massa aberta, dobrando os lados para ela não escorrer. Assar por uns vinte minutos em forno pré-aquecido a 200C. Espalhar uns pinolis por cima (opcionais) e tá pronto.

sábado, 17 de março de 2012

Guerra

Depois de quase três meses, estou voltando ao blog para falar sobre as batalhas que perdi. As moscas brancas, as pretas e os ácaros tomaram conta das minhas plantas. Resultado: perdi quase tudo o que tinha, pouco a pouco, tristemente.

Foi tudo tão melancólico que não tive coragem de descrever. Por muitos dias, nem quis ir ao jardim, porque sabia que ia encontrar mais uma planta morta ou murchando. Durante um tempo, fiz uma tentativa de trazer os vasos para dentro, mas aí foi ainda pior. A praga se alastrou ao ponto de eu comprar uma muda, trazê-la para casa e, um ou dois dias depois, assisti-la definhar e perecer. Tentei tudo o que pude: gastei litros de óleo de neem, fiz mil pajelanças com pimenta, alho, tagetes, fumo, sabão. Lavei toda a terra dos vasos com vapor, troquei a marca da terra, lavei os vasos com água sanitária, misturei pimenta do reino na terra. Apelei para a piretrina, para o malathiol, nada, nem "cosca" nas pragas. E assim se foram meus cardos, minhas calêndulas, meu funcho de bronze, minha verbena azul, minhas balloon flowers, minhas centáureas, meus dez tipos de manjericão. Não sobrou unzinho! Os tomateiros resistiram bravamente por um tempo, depois também se entregaram. Foi horrível horrível.Minha casa se tornou uma bagunça de vasos, rolos de bidim, sacos de terra pela metade. Me sentia o faraó do Egito, vendo as pragas de Moisés arruinarem seu reino.

Um dia, meu marido comentou que se o jardim estava me causando tanta angústia, seria melhor terminar com ele. Cheguei a considerar a ideia, imaginei os vasos voando pela sacada e se espatifando lá no meio da rua, assustando os carteiros. Perder tudo por entre os dedos mexia com a minha tolerância à frustração, me deixava impotente, descrente na agricultura vertical, nos recursos de cultivo orgânico, na minha própria inteligência.

Mas como sempre acontece comigo, as situações mais adversas tem o poder de me deixar com raiva, e essa raiva é o motor mais potente que tenho. Quando eu sinto raiva, aproveito, como se fosse uma onda, e surfo nela até sair da fossa em que me encontro. Percebi, como qualquer pessoa que chega numa terapia, que minhas forças e recursos tinham se esgotado, e que era hora de buscar ajuda em outra pessoa, em um profissional.

Procurei a EMATER aqui do meu município, pensando que eles não se dariam o trabalho de atender a um espaço tão pequeno de cultivo, mas para minha surpresa, o agrônomo não só me orientou como prescreveu e visitou meu jardim mais de uma vez.

Disse ele que o fato de haver muitas plantas em um espaço pequeno fazia do meu jardim um ambiente desequilibrado, com escassez de recursos para que as plantas se mantivessem saudáveis. Pouca circulação de ar, sol demais, tempo seco, irrigação insuficiente. Tudo isso permitiu que os ácaros se alastrassem pelas folhas e também na terra, e que as moscas brancas, disseminadoras de viroses, fizessem o mesmo.

Como agrotóxicos são proibidos em zonas urbanas, tive de retirar toda a terra contaminada em sacos de vinte quilos e carregá-los até um lugar onde foi possível desinfetá-la com um fumigador (Obrigada, Gustavo, que carregou muita, mas muita terra, escadas abaixo e acima). Da mesma maneira, tive de levar as plantas sobreviventes para a zona rural e lá aplicar um preparado, em intervalos de 15 dias, que controlou a população de pragas. Comprei um "chuveirinho de mangueira" e passei a molhar as folhas das plantas todos os dias, ignorando as orientações em contrário que tantas vezes li em manuais de jardinagem.

Resultado: estou replantando tudo, hoje semeei de novo pela primeira vez este ano e agora, mais experimentada, estou me sentindo forte para recomeçar. Um jardim não é só um espaço de relaxamento. Nas palavras de Pia Pera, também é uma escola dura, um professor furioso que nos bate nos dedos quando erramos - e que nos deixa sem merenda. Muitas vezes, contudo, são os mestres mais rígidos que nos ensinam as lições mais indeléveis. E foi assim que, mesmo morrendo, meu jardim contribuiu para o meu crescimento pessoal.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As Ervas e a Quimioterapia

Fui questionada acerca das ervas e seus potenciais efeitos benéficos para pessoas que estejam fazendo quimioterapia. Sendo um assunto de utilidade pública, divulgo aqui alguns dados que recolhi pela internet e que fazem sentido para o meu discernimento de médica. Recomendo fortemente, porém, que essas informações sejam discutidas com o médico ou enfermeira assistente em cada caso, pois a situação clínica pode variar enormemente.

A água costuma ser a coisa mais nauseante, então flavorizá-la com menta ou stevia é uma ideia.

Para evitar a náusea, tomar golinhos de chá de hortelã-pimenta, gengibre ou camomila alemã (Matricaria recutita) ou, ainda, mastigar gengibre cristalizado. A tradição aponta para a macela como anti-emético natural também.

Curcuma (açafrão-da-terra) e orégano são temperos que não revoltam o estômago, como o curry ou a pimenta, e são ricos em antioxidantes, o que pode ajudar na recuperação depois de uma sessão de químio.

Picolés de fruta ou de chás de ervas com frutose ou açúcar mascavo ajudam a manter a hidratação, aliviar as inflamações da mucosa oral e o aporte calórico. A propósito, é melhor manter refeições pequenas e frequentes, quando a pessoa quiser, a guloseima, o lanchinho que mais apetecer.

É melhor comer a comida fria, ao invés de quente, qdo desprende mais odor, ficar longe da cozinha e de seus cheiros enjoativos e usar um garfo de plástico para não ressaltar o gosto metálico que a químio pode deixar na boca e que distorce os sabores, provocando inapetência.

Bebidas carbonadas ajudam a combater a sensação de náusea, desde que ingeridas em pequenas quantidades, longe das refeições, para evitar a distensão do estômago.

Smoothies, suflês, purês, pudins, cremes - doces e também salgados, evitam a dor da mastigação prolongada e facilitam a ingesta. Para a carne, se pode tentar corrigir as distorções de sabor recorrendo às marinadas ou aos preparos agridoces. Alimentos integrais sim, mas bem cozidos. Em cada caso, se deve balancear a alimentação, pois tanto diarreia quanto constipação podem acontecer e requerer manejos opostos.

Convém evitar gorduras, açúcares, carnes de digestão mais difícil e especiarias muito pronunciadas, que podem piorar a dor da mucosite oral. Então, a pimenta, apesar de grande anti-oxidante, não é indicada.

E, para terminar, aqui vai até uma receitinha gourmet que traduzi do excelente livro de Manuella Pellegrini, Le mie ricette: nutrizione e chemioterapia: uma Tartare de Salmão.


Triturar com a mezzaluna 200g de salmão fresco, sem pele e sem espinhas. Misturar bem com o suco de um limão, sal, pimenta e um fio de um ótimo azeite. Manter por 30 minutos na geladeira e, ao servir, guarnecer com salsa picada, cebola roxa picadinha e alcaparras enxaguadas.